terça-feira, 2 de setembro de 2014
A ambiguidade dos discursos.
Que terrível é participar de um debate eleitoral! Claro!
Estou falando de mim mesmo. Quando digo isso não estou me referindo aos
candidatos. Creio que eles devem gostar de tanta exposição. Estou, de fato,
lembrando que tais debates buscam, quase sempre, apagar as marcas que possam
levar o eleitor a identificar, com alguma clareza, quem é que, de fato, está
tentando falar com ele, i é, "ganhar" seu voto. Trata-se de uma
campanha e não da gestão do Estado e, portanto, não se trata de verdades e
mentiras, mas de se ganhar uma eleição. Estamos frente a frente com mais um
monumental esforço para se garantir que o mesmo jogo continue sendo jogado.
Trata-se do mesmo jogo que colocou os sindicalistas no poder e, com isso,
transformou-os em funcionários de Estado. Isso que dizer que não consigo
identificar qualquer "risco" dos seringueiros e dos povos da floresta
assumirem e, enquanto tais, permanecerem no poder (não estou indicando pessoas,
mas seus papéis dentro da máquina de Estado). O dilema, talvez, é que os
personalistas ou os exageradamente egocêntricos como Jânio Quadros ou Fernando
Collor não sobreviveram ao processo e tudo tende a indicar que assim será com
Marina Silva, caso vença o tal do pleito. Tem gente tentando imaginar o quão
semelhantes ou diferentes são os membros da "família Silva" (hoje
mesmo li um artigo que tentava analisar Lula como o Silva que veio para a
Cidade e a Marina como o Silva que ficou na floresta). Acontece que é preciso
mais que isso para esse debate: é preciso compreender que qualquer
"Silva" nesse momento só é "Silva" em relação ao Brasil e o
Brasil é, entre outras coisas, uma estrutura de Estado, isto é, uma correlação
de forças que, no nosso caso, ainda está dominada pelas oligarquias agrárias.
Nossas elites, mesmo as intelectuais, em sua maioria namora desbragadamente com
o reacionarismo. É nesse contexto que o sindicalista Lula foi se tornando um
homem da Odebrecht, a torturada Dilma a mais evidente opção de uma ação de
Estado em nome da consolidação do capitalismo e a Marina uma aparente opção
para o moralismo típico de nossa ambígua classe média, defensora da moral e dos
bons costumes - além de mantenedora da melancólica relação com índios,
seringueiros e outros povos da floresta, mas sempre pronta a mostrar sua
revolta barulhenta se começar a faltar energia elétrica, "cair" o
sinal de internet ou qualquer outra dificuldade que coloque em questão sua
efetiva participação na reprodução das formas de dominação social que nos são
mais que tradicionais. Quanto ao
Neves... bom! Neves não é Silva e, ao que parece, não consegue colocar sua
ambiguidade alavancando sua candidatura e, portanto, deixemos que fique onde
está. Ah! Lembrando... quando li o comentário de um leitor de blogs afirmando
que é preciso ter alternância de poder e que a Marina representava o desejo
divino de que tal prática se realizasse, lembrei-me daquela máxima que nos
ensina que Deus escreve certo por linhas tortas e... bom... teve candidato que
foi atropelado pela linha torta e, então, fez-se a luz da alternância. Como já
disse, é terrível participar de um debate eleitoral. Tudo é campanha e, apesar
de tudo, o verbo não se faz carne.
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